Se o velho mora só, sua rotina é cuidar dos reparos no apartamento.
Vou servir de exemplo na crônica que relato agora.
Velho não mora em edifício novo. Comprou o seu já na maturidade.
São prédios com quarenta, cinquenta anos, em média.
Nessa fase os elevadores pedem aposentadoria. Precisam ser trocados por novos.
O condomínio vai às alturas, e a desvalorização do imóvel é uma loucura.
Moro num desses. Tem mais de trinta anos. E todos os meses, tenho problemas a resolver — um desfile de especialistas, cada vez mais valorizados profissionalmente.
Não saberia contar quantos consertos fiz neste ano em meu apartamento.
Tudo de extrema necessidade. Nada de embelezamento — como pintura ou troca de móveis.
E nem falei dos problemas tecnológicos: computador, internet, TV, celular, Sky...
Tudo envelhece. E a indústria parece fabricar com prazo de validade já contado.
O velho que chega aos noventa, geralmente mora só. E, apesar das cuidadoras, é dele a tarefa de resolver esses problemas.
Caso contrário, a casa vira inabitável.
Quem nunca viu uma casa assim — inabitável — com um velho dentro?
Nesses últimos dias, tenho pensado muito sobre este final de caminhada.
Tenho restrições que preferia desconhecer... mas a memória, essa ainda me acompanha como nos bons tempos.
Se não fosse ela — e a força de vontade para aprender a viver só — não sei o que seria de mim.
Às vezes me vem à mente a ideia de um abrigo para velhos saudáveis.
Cometi um erro. Velhos saudáveis são raros.
O que existe são velhos controláveis — com assistência médica e uma lista de remédios.
Como não temos um sistema único de saúde realmente qualificado para todos, e com o preço dos medicamentos fora do alcance de muitos, está cada vez mais difícil encontrar velhos — apesar de todo o avanço da medicina.
Sigo cuidando da saúde e da manutenção da casa, com as cuidadoras ao meu lado 24 h por dia.
Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado