OLICÉLIA PONCIONI

O que dizer dos crimes bárbaros?

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O que dizer dos crimes bárbaros?

Diante de acontecimentos bárbaros, crimes hediondos, com requintes de crueldade  como da jovem Emelly é muito comum dizer que só pode ser louco, que tem doença mental ou que tem problema de cabeça. Mas, não. Isso não é verdade!
Na psiquiatria as pessoas podem ser  neuróticas, psicóticas e psicopatas. É preciso fazer uma diferenciação entre eles:

Neuróticos, grande parte da humanidade é de alguma forma. Pois envolve os transtornos mais comuns como, por exemplo, os transtornos ansiosos. A ansiedade é algo bom e normal quando não está afetando nossa qualidade de vida, passa a ser doença e precisa de ajuda quando afeta a cognição, o trabalho, os relacionamentos, o sono, a produtividade, o aprendizado, quando se apresenta frequentemente na rotina da pessoa interferindo em suas funções e prejudicando-as.

Psicóticos são aqueles transtornos que cursam com quadros delirantes, alucinatórios, onde a mente cria como uma verdade e tira a pessoa da realidade, deixando-a sem juízo crítico, sem insight da doença, ou seja, sem noção do que é real ou imaginário pode ocorrer no transtorno afetivo bipolar em fase de mania, ou podendo ouvir vozes de comando que a pessoa obedece, como por exemplo, a esquizofrenia, transtorno depressivo grave com sintomas psicóticos, alguns tipos de drogas e outros transtornos psicóticos.

Psicopatas são pessoas que trazem consigo uma capacidade de prejudicar, de fazer o mal, de tirar proveito a qualquer custo, sem nenhuma empatia, compaixão ou dó, com prejuízo na área do afeto, mas aparenta ser uma pessoa normal.

Conquistador, amigo e usa de várias artimanhas para atrair suas vítimas. É muito mais comum do que se imagina, se a pessoa olhar ao redor vai reconhecer em alguém esse perfil de manipulador, conquistador tipo um “Dom Ruan”.

No trabalho parece ser a pessoa mais legal, brincalhona, risonha, porém não mede esforços para subir a qualquer custo, puxando o tapete, pisando na cabeça.
Serial killer é um psicopata que pratica crimes bárbaros, feralmente repetem o mesmo padrão, é menos comum e são as pessoas literalmente cruéis, que não podem viver em sociedade.

Para eles matar uma pessoa esmagando, esquartejando é como matar uma barata pisando nela, não tem diferença! Psicopatia não tem tratamento, não é uma doença, é uma forma de ser! Não existe um remédio que faça as pessoas sentirem amor, compaixão, empatia, isso é intrínseco ao ser.

Vale lembrar que nem sempre crimes bárbaros que acontecem na sociedade, podem ter relação com doença mental. Em alguns casos, trata-se de pessoas cruéis, não podemos fazer essa relação e nem deixar a sociedade pensar assim.

A diferença é que um paciente em surto psicótico pode matar ou atentar contra a própria vida, isso é uma emergência psiquiátrica e necessita uma intervenção para proteger a vida da pessoa ou de terceiros. 

Porém, nesses casos, as pessoas geralmente agem por impulso, ou demonstram sinais de que estão com pensamentos fora da realidade, comportamentos de agitação e agressividade, as pessoas ao redor notam alterações no comportamento, pensamentos e sensopercepção (falas sem nexo) desses pacientes com sintomas psicóticos.

Existem sim pessoas cruéis que não tem doença mental. Nem tudo é caso de psiquiatria. As vezes é caso de cadeia mesmo, por isso ABP-Associação Brasileira de Psiquiatria foi contra a extinção dos manicômios judiciários dentro dos presídios que foi uma norma instituída pelo CNJ- Conselho Nacional de Justiça n°487/2023, liberando mais de 5.000 criminosos, psicopatas que cometeram esses tipos de crimes bárbaros.

Dra Olicélia Poncioni é Médica Psiquiatra- CRM 2845 RQE 2862 - Título de especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria e Associação Médica Brasileira, preceptora da Residência Médica de Psiquiatria (CIAPS ADAUTO BOTELHO/SES/MS)  e preceptora do internato de medicina da UNIC. Responsável Técnica da Psiquiatria Hospitalar do HMC