Quando o cardeal Jorge Mario Bergoglio surgiu na sacada da Basílica de São Pedro naquela tarde de março de 2013, poucos sabiam que estariam diante de um pontífice destinado a romper tradições seculares com gestos simples e palavras profundas.
Primeiro Papa jesuíta, primeiro das Américas, primeiro Francisco. O nome já dizia muito: inspiração em São Francisco de Assis, símbolo maior da humildade, da paz e do amor pelos pobres.
Desde então o mundo passou a ouvir mais um líder, que não apenas falava, mas vivia o que pregava.
Francisco trocou o trono dourado por uma cadeira comum. Recusou o palácio e foi morar numa casa de hóspedes.
Insistia em andar de carro simples e desafiava as vaidades que historicamente rondam o Vaticano.
Em vez de julgar, acolhia. Em vez de condenar, compreendia. E em tudo o que fazia, parecia nos lembrar: “A Igreja deve ser hospital de campanha, não tribunal”.
Era amado por muitos e criticado por outros . Talvez por ser, como os grandes homens, inquieto. Falava de justiça social, do cuidado com o planeta, da inclusão dos mais frágeis.
Aproximava-se dos que vivem à margem: refugiados, presos, homossexuais, indígenas.
Ele os chamava de irmãos, e os abraçava sem cerimônias.
Francisco foi o Papa que pedia orações ao povo antes de abençoá-lo. Que escrevia encíclicas, como “Laudato Si’”, sobre o meio ambiente, e “Fratelli Tutti”, sobre a fraternidade universal.
Foi também aquele que, mesmo enfrentando dores físicas e resistências internas, seguia firme, com o olhar sereno de quem acreditava na bondade humana.
Neste tempo tão carente de líderes verdadeiros, sua figura nos consolava. Não pela autoridade que carrega, mas pela humanidade que transbordava.
Francisco não era perfeito, e talvez fosse aí que morava sua grandeza: um pastor com cheiro de ovelha, que caminhava conosco, semeando esperança.
Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado