GIOVANA FORTUNATO

Endometriose e o impacto na sexualidade feminina

· 2 minutos de leitura
Endometriose e o impacto na sexualidade feminina

A endometriose é uma doença crônica e inflamatória caracterizada pelo crescimento de endométrio (tecido que reveste o interior do útero) e/ou estroma (tecido de sustentação de um órgão) para fora da cavidade uterina, sendo que os principais locais acometidos estão localizados na região pélvica, como ovários, intestino, reto e bexiga. Esta doença está diretamente relacionada ao hormônio estrogênio, ocorrendo durante o período reprodutivo da mulher e sendo rara após a menopausa.

Durante o ciclo menstrual, o estrogênio estimula o crescimento do endométrio, preparando o útero para receber um óvulo fecundado. Quando a fecundação não ocorre, o útero elimina este excesso de endométrio por meio da menstruação. No caso da endometriose, o estrogênio circulante na corrente sanguínea, além de estimular o endométrio presente na cavidade uterina, também estimula o endométrio que está fixado em outros órgãos do organismo, ocasionando um processo inflamatório no local acometido.

O processo inflamatório decorrente da endometriose pode causar vários sintomas, tendo como principal a dor durante a menstruação e a dispareunia (dor recorrente que ocorre durante ou após o ato sexual).

A dispareunia pode levar a mulher a evitar o sexo, ocasionando sofrimento, angústia ou dificuldade na relação com o (a) parceiro (a) tornando a mulher incapaz de participar da relação sexual como desejaria. Estudos afirmam que a experiência da dor limita a atividade sexual para a maioria das mulheres com endometriose e isso resulta em baixa autoestima.

Para evitar este principal sintoma da endometriose é preciso manter o acompanhamento com uma equipe multiprofissional com médico, enfermeira, psicólogo, fisioterapeuta e terapia sexual na rotina das pacientes e de seus parceiros. O tratamento é baseado em uso de medicamentos, psicoterapia de casal, cirurgia, entre outros. Se o tratamento for realizado de forma adequada ocorrerá uma melhora na sexualidade, na autoestima, da dor, além de um melhor relacionamento com o (a) parceiro (a).

Essa disfunção sexual pode ocasionar malefícios como a depressão e a ansiedade, devido à redução da libido e da autoestima, diminuição da frequência e do interesse sexual e perda da feminilidade. É de extrema importância tratar a depressão e/ou ansiedade para melhorar a qualidade de vida da mulher com endometriose.

A endometriose pode afetar a vida sexual de várias maneiras e pode ser provocada por diferentes fatores, incluindo:

– Dor pélvica: a dor pode se intensificar durante o sexo, tornando a relação sexual super desconfortável ou até mesmo impossibilitando o ato;

– Ansiedade e depressão: a ansiedade e a depressão provocadas pelos sintomas da endometriose podem fazer com que as mulheres sintam menos vontade de fazer sexo;

– Problemas de comunicação: a falta de comunicação entre o casal e a falta de compreensão do parceiro sobre as dificuldades enfrentadas, sem dúvida, também pode contribuir para que a mulher perca o interesse sexual;

O tratamento da falta de interesse sexual na endometriose deve ser individualizado, levando sempre em consideração o fator que pode estar provocando esse problema.

Enquanto, em alguns casos, o tratamento da dor pélvica e das alterações hormonais junto ao ginecologista já são o suficiente para trazer de volta o interesse sexual, em outros casos, pode ser necessário acompanhamento psiquiátrico e uso de medicamentos para tratar a ansiedade e a depressão. Além disso, também pode existir a necessidade de terapia sexual para ajudar a mulher e o seu parceiro a lidarem com essa situação.

Para as mulheres que estão enfrentando este problema, além do acompanhamento médico de uma equipe multidisciplinar, existem algumas dicas importantes que podem te ajudar a melhorar a sua vida sexual como um todo. 

Escrevo este artigo em contribuição à campanha Março Amarelo, de conscientização sobre a endometriose e a importância do diagnóstico precoce.

 Dra. Giovana Fortunato é ginecologista e obstetra, docente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HUJM e especialista em endometriose e infertilidade no Instituto Eladium, em Cuiabá (MT)