“Os ataques `a natureza tem consequências negativas na vida dos povos. E, para sublinhar que já não se trata de uma questão secundária ou ideológica, mas sim, de um drma que traz danos para todos nós, os bispos africanos declararam que as alterações climáticas evidenciam “um exemplo trágico e marcante de PECADO ESTUTURAL” (pecado ecológico). Papa Francisco, Laudato Deum 3; 04/10/2023.
Amigas e amigos, bom dia, boa tarde, boa noite, Paz e Bem!. Estamos em pleno período da Quaresma de 2025 e nunca é demais relembrar e insistir que a Campanha da Fraternidade deste ano tem como tema a questão da ECOLOGIA INTEGRAL, não apenas como um conceito, mas como um desafio que nos impele às ações, incluindo uma grande MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA na defesa da Casa Comum ou seja, do nosso sofrido Planeta Terra. Afinal o grito da terra é também o grito dos pobres, dos excluídos e dos oprimidos.
Geralmente, os temas das Campanhas da Fraternidade acabam desaparecendo das preocupações da Igreja, tão logo ocorre a coleta solidária, por ocasião do Domingo de Ramos. É como se tudo voltasse ao “normal”, apesar de sabermos que a degradação socioambiental, a destruição da biodiversidade, o desmatamento, as queimadas, os danos dos garimpos e da mineração, o uso abusivo dos agrotóxicos, a destruição das nascentes, a poluição do ar, das águas e dos solos, enfim, a destruição de nossos ricos biomas e ecossistemas não seja um desafio permanente e urgente.
Tanto o Papa Francisco quanto a CNBB costumam utilizar o Método da Igreja: VER, JULGAR e AGIR, tanto para a elaboração da Encíclica Laudato Si, que no dia 24 de Maio próximo estará completando DEZ ANOS de publicação e ainda é uma ilustre desconhecida até mesmo na Igreja Católica, tanto entre fiéis e também no seio da hierarquia eclesiástica, razão pela qual ainda estamos longe de assumirmos nosso compromisso concreto em defesa da Casa Comum, como, aliás o Papa Francisco nos desafia logo no início de sua Exortação Apostólica LAUDATO DEUM, em 2023, quando afirma textualmente “ Já se passaram OITO ANOS desde a publicação da Carta Encíclica LAUDATO SI, quando quis partilhar com todos vós, irmãos e irmãs do nosso maltratado planeta, a minha profunda preocupação pelo cuidado com a Casa Comum (PLANETA TERRA). Com o passar do tempo, entretendo, DOU-ME CONTA DE QUE NÃO ESTAMOS REAGINDO DE MODO SATISFATÓRIO , pois este mundo que nos acolhe está demonstrando e talvez se aproximando de um ponto de ruptura” (o chamado PONTO DO NÃO RETORNO).
Parece que, mesmo diante desta Exortação Apostólica do nosso Papa, pouca coisa ou quase nada tenha mudado em relação a velocidade como o Planeta Terra e todos os biomas e ecossistemas continuam sendo degradados e destruídos, cujo resultado final é o agravamento da CRISE CLIMÁTICA que a cada dia se torna mais profunda e mais destruidora, sem que nada disso seja motivo para mudarmos nosso estilo de vida, nossos hábitos consumistas e perdulários e também nossos sistemas de produção, sistemas econômicos movidos apenas pela volúpia depredadora em busca de lucro imediato e destruidor (rapinagem) da natureza.
O Método da Igreja VER, JULGAR/ILUMINAR e AGIR, nos induz a uma reflexão mais profunda, para que, de fato possamos conhecer a realidade que nos cerca, na qual estamos inseridos, para identificarmos os desafios socioambientais que existem em nossos territórios, nossas comunidades, nossas paróquias, dioceses e Arquidioceses, ou seja, nossa vizinhança, nossos bairros, nossas cidades, nosso estado, nosso país e, enfim, nosso planeta.
Na elaboração do texto-base desta Campanha da Fraternidade de 2025, da mesma forma que nas anteriores, a CNBB também utiliza do MÉTODO DA IGREJA: VER, JULGAR/ILUMINAR e AGIR, de uma forma global, cabendo a cada Arquidiocese, Diocese, Paróquia ou comunidade Eclesial adaptar o referido método para a sua realidade concreta.
Tendo em vista que a Laudato Si enfatiza “que tudo está interligado”, aqui se aplica, perfeitamente, o princípio metodológico bem simples, mas sempre super importante de PENSARMOS GLOBALMENTE e AGIRMOS LOCALMENTE, começando pelas nossas famílias, nossa casa, nosso quintal, até atingirmos a coletividade,, realizando ações, as vezes, aparentemente simples, pequenas, mas que em seu conjunto podem provocar mudanças e transformações mais profundas.
Outra “linha” de atuação, além das ações sociotransformadoras, de preferência que sejam comunitárias e coletivas, precisamos também exercer nossa responsabilidade cidadã, que é a MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA.
Diante deste desastre socioambiental terrível que estamos assistindo e sofrendo seus efeitos, não podemos nos omitir, afinal, A OMISSÃO é um pecado perante o Evangelho da Criação e a doutrina cristã e, ao mesmo tempo, é uma CONIVÊNCIA diante de atos, ações e comportamentos que contribuem para a degradação dos biomas e ecossistemas.
A Campanha da Fraternidade, que já tem 61 anos de existência na Igreja Católica e também em algumas Igrejas Evangélicas, que a cada cinco anos participam da Campanha da Fraternidade em bases ECUMÊNICAS, tem tratado de diversos temas socioambientais (Ecológicos); mas não tem tido os efeitos que poderiam ter, tendo em vista a falta de continuidade na luta e ações para mudar hábitos, estilos de vida e sistemas econômicos e nas relações de produção, de trabalho e de consumo, além da falta de compromisso com as futuras gerações.
A forma mais concreta que poderia ser utilizada pela Igreja Católica e também pelas Igrejas Evangélicas seria a organização das Pastorais da Ecologia Integral em todas as Arquidioceses, Dioceses e Paróquias, que somam mais de 12 mil em todo o Brasil; e também a organização, implantação dos NÚCLEOS ECOLÓGICOS PAROQUIAIS nas mais de 130 mil comunidades Eclesiais da Igreja Católica e também em centenas de comunidades evangélicas pelo Brasil afora. Todavia, a presença dessas pastorais, que são uma forma de evangelização, ainda não tem atingido nem 5% da Igreja no Brasil, o que demonstra a distância entre as exortações do Papa Francisco e a realidade concreta da Igreja neste imenso território.
De pouco adianta apenas falarmos, discorrermos sobre os desafios socioambientais, mesmo que o conhecimento da realidade seja o primeiro ponto a ser estabelecido se desejamos, REALMENTE, mudar hábitos, costumes, estilo de vida e, em contrapartida nada fizermos de concreto. Precisamos além de orações, também muitas ações sociotransformadoras e muita mobilização profética libertadora.
Exemplo, é importante sabermos sobre a importância da separação do lixo, da reciclagem, da economia circular; mas se “pararmos” apenas nesta etapa, a realidade por si só não será transformada; precisamos de AÇÕES SOCIOTRANSFORMADORAS, que impactem tanto a conjuntura, mas , PRINCIPALMENTE, também transformem as estruturas políticas, econômicas, religiosas, sociais e culturais que geram a degradação socioambiental e a destruição da natureza.
Sabemos das consequências dos agrotóxicos, das barragens, dos danos da minueração, do desmatamento, das queimadas, da destruição da biodiversidade, da falta de esgotamento sanitário tanto para a natureza quanto para nós, seres humanos, principalmente na saúde humana; mas se apenas sentirmos esses impactos, ficarmos reclamando com nossos vizinhos e nada fizermos de concreto para mudar, transformar esta realidade, tudo continuará na mesma e irá piorar, por isso é que precisamos lutar por políticas públicas que protejam e respeitem a ecologia integral, e, neste particular a mobilização profética libertadora é fundamental.
Além disso, não podemos imaginar que apenas as ações voluntárias das pessoas, individualmente consideradas irão transformar a realidade de forma mais efetiva, para tanto, precisamos de ações coletivas, comunitárias, através de todas as entidades e movimentos sindical, moradores de bairro, entidades representativas da sociedade civil organizada, enfim, só o somatório das ações coletivas é que produzirão impactos significativos nesta realidade em processo acelerado de degradação.
De forma semelhante, precisamos fazer pressão sobre os organismos públicos, em todos os âmbitos: Federal, Estaduais e Municipais, nos três dimensões de poderes: Executivo, legislativo e Judiciário e, também, sobre os organismos de controle, sem os quais as ações, tanto públicas quanto privadas nada acontece.
Afinal, costuma-se dizer que os organismos de fiscalização e controle, inclusive os Ministérios Públicos e as Defensorias públicas são os “fiscais” da Lei. Sobre esses organismos também temos a obrigação e o direito, em nome da cidadania, pressionarmos para que atuem de maneira mais pró-ativa, afinal, este é seu dever constitucional e legal. Para tanto os governantes de plantão não podem sucateá-los, impossibilitando a plenitude de suas ações.
Neste particular sobressaem tanto o papel da Educação ambiental em todos os setores e dimensões da sociedade quanto a fiscalização e aplicação das penalidades cabíveis aos vários tipos de crimes ambientais (sem as costumeiras anistiais) que continuam sendo praticados IMPUNEMENTE tanto em nosso país quanto em diversos outros países.
Creio que esses são apenas alguns dos imensos e inúmeros desafios socioambientais que continuamos assistindo cotidianamente, quase que passivamente, em todas as localidades deste imenso Brasil, onde a degradação socioambiental e a destruição da natureza, tanto no meio urbano quanto no meio rural, continuam bem presentes em nosso país.
Vamos aproveitar esta Quaresma e também o restante do ano para refletirmos e agirmos de fato e mudarmos esta realidade, antes que seja tarde demais.
Para orientar nossas reflexões, nossas ações e nossas MOBILIZAÇÕES PROFÉTICAS LIBERTADORAS, existe um CALENDÁRIO ECOLÓGICO que destaca quase uma centena de DIAS ESPECIAIS, em torno dos quais podemos estar engajados diuturnamente e não apenas uma vez por semana durante os ofícios religiosos ou nunca, já que existem diversos setores da Igreja Católica e também de Igrejas Evangélicas que se esquecem que a natureza, da mesma forma que os seres humanos, a humanidade são OBRAS DA CRIAÇÃO, de um CRIADOR que “fez os céus e a terra”, e nos deixou um paraíso, para ser cuidado e não destruído irracionalmente como continua acontecendo.
Este é o sentido do Lema desta Campanha da Fraternidade de 2025, que ao focar na Ecologia Integral, que, além do Objetivo Geral, estabelece também ONZE OBJETIVOS ESPECÍFICOS, dentre os quais, destaco os seguintes: 3)apontar as causas da grave crise climática global, a urgência da alteração profunda de nossos modos de vida e as falsas soluções”, e, 8) Incentivar as pastorais (exemplo da Pastoral da Ecologia Integral),e os movimentos socioambientais, em vista da JUSTIÇA SOCIOAMBIENTAL e da atuação socioeducativa.
Finalizando, é importante também destacar o Lema da referida Campanha da Fraternidade ao enfatizar que “Deus viu que tudo era muito bom” (Livro do Gênesis 1:31); mas o pecado (inclusive o pecado ecológico) e a ganância humana continua destruindo as maravilhas que Deus fez para todas as pessoas e não para serem apropriadas e destruídas por uma minoria insensata e insensível, esquecendo-se de que o meio ambiente, a natureza e todas as obras da criação fazem parte do bem comum!
Esses são apenas alguns dos desafios que estão postos diante de nós, Cristãos, Católicos, Evangélicos e também adeptos e fiéis de outras religiões ou até mesmo agnósticos ou ateus, afinal, independente de nossas crenças e doutrinas religiosas, a destruição planeta, os “desastres” ecológicos afetam todas as pessoas, mas de uma forma mais cruel os pobres, excluídos, despossuídos, enfim, as grandes massas empobrecidas dos países.
Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista e articulador da Pastoral da Ecologia Integral na Região Centro Oeste. Email profjuacy@yahoo.com.br Instagram @profjuacy