ROSANA LEITE

Dulcina de Moraes

· 3 minutos de leitura
Dulcina de Moraes

A criadora da Fundação Brasileira de Teatro foi Dulcina Mynssen de Moraes. Nasceu em Valença/RJ, no dia 03 de fevereiro do ano de 1908, e partiu em Brasília, dia 28 de agosto de 1996.

A atriz é filha de um ator e uma atriz, e nasceu durante uma turnê deles junto a uma companhia de teatro. O parto aconteceu em um hotel em Valença, local em que se apresentavam, recebendo o nome em homenagem à avó materna, também atriz: Dulcina. É dela: “Eu sou, sempre fui, serei até o último momento uma mulher de teatro. O teatro é minha casa. O meu habitat. O meu oxigênio.”

O nascimento dessa importante atriz foi tal como uma peça de teatro. O proprietário do hotel onde o casal estava hospedado, quando a mãe de Dulcina entrou em trabalho de parto, proibiu o casal de por lá permanecer. Assim, todo o elenco da peça se revoltou, se recusando a permanecerem hospedados no hotel. Uma condessa soube do acontecido e disponibilizou um local para abrigar a parturiente e o seu companheiro. Com a solidariedade da população local mantimentos chegaram até a mãe de Dulcina, que nasceu cheia de carinho de muitas pessoas.

Recém nascida, com apenas um mês, a bebê Dulcina já participava das apresentações mambembes, na condição de boneca, em um berço que a peça continha. Já a carreira como atriz se inicia quando ela estava na adolescência, aos 15 anos, na década de 20, e passou a se apresentar pela Companhia Brasileira de Comédia. A sua primeira peça foi o espetáculo “Travessuras de Berta”.

Tendo praticamente “nascido” nos palcos, a atriz desempenhava o papel com a essência especial ditada pela naturalidade. Viveu muitos personagens marcantes, tal como a “Marquesa de Santos”. Encontrou no marido um exímio companheiro de vida, com quem fundou a Companhia Dulcina-Odilon, tendo sido responsável por várias peças de sucesso. Inclusive, a atriz retirou dos atores e atrizes da sua companhia a obrigatoriedade do uso do incomodo ponto (pessoa que dizia o texto no ouvido do elenco), por achar que retirava o improviso da arte. Inovou instituindo o descanso semanal para os artistas às segundas-feiras. É dela a declaração: “Eu não consegui pensar o teatro como sendo apenas um negócio. Eu sei que nós dependemos da bilheteria para continuar. Mas, não foi por isso que nós montamos a companhia. Foi para dar continuidade ao nosso trabalho. E só íamos poder continuar trabalhando se tivéssemos o nosso grupo. Exatamente como hoje, num país em que o teatro não é feito com empresário.”

Dulcina foi aclamada pela sua atuação. Dentre tantas homenagens, recebeu a medalha do mérito da Associação Brasileira de Críticos Teatrais (ABCT) como melhor atriz do ano. Atuou em turnês na Argentina e Uruguai, onde trouxe outras ideias para o país. Como diretora da peça intitulada “Mulheres”, ganhou outro prêmio da ABCT. O marido e ela, na década de 50, começaram o movimento para valorização da classe e legalização da carreira teatral. Já em Brasília, a atriz passou a dar aulas de teatro, formando centenas na profissão. Em 21 de abril de 1980 é inaugurado na Capital Federal o Teatro Dulcina de Moraes. Também em Brasília foi criada, no ano de 1982, a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, tendo sido um prolongamento da Fundação Brasileira de Teatro.

No ano de 2023, Dulcina foi incluída no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. O teatro reflete a cultura de um povo, sendo uma das formas mais apreciadas de lazer. A nossa heroína deixou legado e história, e muitas afirmações: “A arte já é uma fortuna tão grande, um dom tão maravilhoso, que seria demasiado dela se esperar dinheiro. Acho que a arte e a fortuna são, ou pelo menos deveriam ser, incompatíveis.”

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual, mestra em Sociologia pela UFMT, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso – IHGMT -, membra da Academia Mato-Grossense de Direito – AMD - Cadeira nº 29