O Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT) informa que irá protocolar, junto à Justiça Federal, informações relativas a um novo episódio de invasão a uma unidade de saúde, abuso de autoridade e violência verbal praticado pelo vereador de Várzea Grande, Kleberton Feitoza Eustáquio, contra uma médica e outras profissionais de saúde, no dia 30 de abril.
Os documentos serão juntados ao processo aberto em 14 de março contra o mesmo parlamentar (nº 1007245-70.2025.4.01.3600), por práticas semelhantes, sempre cometidas contra mulheres. No processo, a autarquia pede que o parlamentar seja proibido de ingressar em unidades sem autorização; realizar qualquer tipo de filmagem de profissionais de saúde e pacientes sem consentimento; adentrar locais restritos dessas unidades; e praticar qualquer forma de intimidação contra os profissionais.
Por fim, o CRM-MT lamenta a inação da Justiça Federal de Mato Grosso, uma vez que o processo encontra-se concluso para despacho desde o dia 19 de março, o que teria permitido ao parlamentar praticar novos atos de violência e abuso contra profissionais que atuam na Saúde de Várzea Grande.
Recorrente
Em apenas quatro meses no ano, Kleberton já protagonizou pelo menos quatro episódios graves nas supostas fiscalizações. Em 23 de janeiro, ele invadiu a Unidade de Saúde da Família (USF) do Parque do Lago, durante horário de almoço dos profissionais médicos, filmando ambientes internos sem autorização e divulgando informações falsas sobre a prestação do serviço público de saúde.
Por meio das redes sociais, o vereador mentiu, alegando que a unidade estava abandonada e sem atendimento. “Entretanto, a unidade possui horário de funcionamento regular, das 7h às 11h e das 13h às 17h, conforme estabelecido pelo gestor público “, explicam os advogados. Mesmo após ser informado sobre essa programação, ele persistiu na divulgação de declarações enganosas em suas redes sociais.
O segundo episódio ocorreu justamente no HPSMVG, no dia 6 de março. Na ocasião, ele invadiu a sala de descanso da unidade, alegando que uma médica que atuava no local havia deixado o hospital, o que foi confirmado não ser verdade. A profissional, ao ouvir a gritaria provocada pelo político, contrangida e intimidada, optou por se esconder no vestiário feminino localizado no setor de descanso dos profissionais. A mesma médica foi filmada pelo político no consultório, em momento de atendimento, o que configura na violação do sigilo entre médico e paciente.
“O abuso gerou consequências psicológicas e profissionais irreversíveis para a médica, que, após o incidente, pediu demissão, relatando dificuldades para dormir e trabalhar devido ao impacto do ocorrido”, narram os advogados na petição.
Um dia depois, na véspera do Dia Internacional da Mulher, ele invadiu o Centro de Especialidades Médicas, de forma intimidatória, causando uma série de transtornos aos pacientes que ali estavam, em jejum, aguardando para a realização de exames. “De forma coincidente e preocupante, suas abordagens mais agressivas ocorrem contra profissionais mulheres, evidenciando um padrão de conduta que sugere machismo estrutural e abuso de autoridade direcionado a servidoras do setor da saúde”, salientam os advogados do Conselho.
Ao justificar os pedidos em caráter de urgência, os procuradores reforçam que a postura de Kleberton, longe de representar um exercício legítimo de fiscalização, tem causado muitos transtornos aos profissionais e à população. “A reincidência dessas práticas comprova que o vereador age de forma premeditada e abusiva, utilizando seu cargo como ferramenta de autopromoção política às custas da integridade dos profissionais da saúde, do funcionamento regular das unidades médicas e do bem-estar dos pacientes”.