EMANUEL FILARTIGA

A Paz que Eu Não Quero

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A Paz que Eu Não Quero

Para vivermos nessa atmosfera devemos ter coragem e ânimo. E memória! Não aquela memória que corre pela escala das datas ou pelo decorar, mas aquela memória viva, a memória-imaginação que queria Bachelard.

Não nos deixar seduzir pela “paz” que outrora queríamos combater, aquela paz dos cemitérios, dos lucros fartos. Não nos acomodarmos na “tranquilidade” que queríamos ultrapassar, a da rotina e a do medo.

Quem nos transfaz é a vida, amigo leitor! Há nascimento e morte no caminho. Então coloco em meu canto versos que deram a volta por cima.

Minha esperança de mudança nunca ficou em um novo presidente, no próximo prefeito, numa nova bancada de vereadores, num “ano novo”. Minha esperança nasce em um campo bem certo: o chão. O chão do dia a dia, que começa dentro da gente, na fome, não no prato.

Há um grave perigo nesse chão, o de morrer, quando morro desaprendo o caminho sonhado por meus pés; digo morrer em vida mesmo, já que essa é a morte mais comum. Quando esquecemos do que somos e nos perdemos de nós mesmos do que éramos.

Quantas vezes uma "lembrança pura" pode reaquecer uma alma que se recorda. Ela pode dar nascimento a um ato, nos sacudir com urgência para seguir a lembrar. Evocar a própria essência, a identidade.

Pessoas mortas de memória viva vejo aos montes. Tudo que sonharam, tudo que queriam mudar, transformadores da vida, acalmaram-se, domesticaram-se, seduziram-se… e por tão pouco! Algum dinheiro, algum poder, alguma rotina, algum medo.

O que foi feito do canto menino que você cantou há tantos anos, amiga leitora. Aonde foi parar seu sonho, sua alma. As memórias são, com efeito, reservas de entusiasmo que nos ajudam a acreditar no mundo, a amar o mundo, a criar o nosso mundo. Lembra! Para estar pronto para combater a apatia instaurada. Canta! Para assustar o silêncio que é socialmente aceitável e encorajado. Recusa! Para não acabar engolido pelo tédio e pela rotina. Pensa! Para não se apequenar por qualquer dinheiro ou poder.

Emanuel Filartiga Escalante Ribeiro é promotor de Justiça em Mato Grosso